Essa tal de filosofia

09/01/2016 18:45

O que é esta ciência tão antiga? Muitos nem imaginam que ciência é esta. Na verdade muitos filósofos dedicam anos de pesquisas para responder tal pergunta, e cada um tem uma maneira diferente de interpretar o significado desta; o filósofo alemão Edmund Husserl (1859-1938), dizia que ele sabia o que é filosofia, ao mesmo tempo que não sabe, a própria explicação do que é filosofia é uma questão filosófica. Mas na real, o que é essa tal de filosofia?

Primeiramente buscaremos na etimologia[1]. A expressão ‘filosofia’ vem de uma associação de dois termos gregos, philia (amor ou amizade) e sophia (sabedoria), seu significado literal seria “amor pela sabedoria”. Porém aqui, deve-se ter cuidado, assim como Charles Feitosa (2004) comenta, “o filosofo não é um sábio, aquele que se sente cheio de certezas, mas sim alguém que está constantemente à procura de conhecimento”[2]. A palavra filosofia foi primeiramente usada por Pitágoras (580-496 a.c), por não se considerar um ‘sábio’ (sophos no grego), mas apenas alguém que ama e procura a sabedoria.

Somos animais racionais (homo sapiens), seres que pensam, que racionalizam. Por ser este ‘ser pensante’, questionamos sobre as coisas; quantas vezes não nos pegamos a pensar o que é o amor, a vida, a morte? Este simples ato de questionar, nos faz buscar argumentos para dar sentido a estas coisas. Então é do homem questionar, e este ato é o ato de filosofar, um simples ato espontâneo, que todo homem tem capacidade de fazer, assim como o filósofo italiano Gramsci dizia, “não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, que não pense, precisamente porque o pensar é próprio do homem como tal” [3].

A filosofia pressupõe, de certa forma, uma constante disponibilidade para o questionamento, assim como os filósofos gregos Platão (429-347 a.c) e Aristóteles (384-322 a.c), disseram que, a primeira virtude do filósofo é admirar-se, ser capaz de surpreender-se com todas as coisas, e indagar as verdades dadas, é um sair de si, ir á busca da verdade e não esperar por ela.

Segundo estes filósofos, devemos então nos surpreender, assim como o escritor Jostein Gaarder relata, “a capacidade de nos surpreendermos é a única coisa que precisamos para nos tornarmos bons filósofos” [4]. As crianças possuem esta capacidade de surpreender-se com todas as coisas, mesmo ela vendo o mesmo objeto/coisa diversas vezes, na verdade há um espanto pelo novo. Alguns pensadores, assim como Rubens Alves, afirmam que, devemos ter o espírito de uma criança, para que assim, possamos exercer nossa plena capacidade filosófica[5]. De certo forma os adolescentes, também possuem outra característica do filosofar, a curiosidade. Por sua vez, devido à idade, muitos jovens envolvem-se com comportamentos inadequados como sexo sem prevenções e uso de drogas, em nome dessa curiosidade.

O ser humano, assim quando vai crescendo, vem perdendo a capacidade de surpreender, admirar, espantar, nossa curiosidade é reduzida. Infelizmente o homem nasce filosofando, e deixa isso deixa de lado ao amadurecer. No livro O Mundo de Sofia,o escritor Gaarder, vem tratar isso.

O triste de tudo isso, é que, à medida que crescemos, nos acostumamos não apenas a lei da gravidade. Acostumamo-nos, ao mesmo tempo, com o mundo em si (...). Ao que tudo indica, ao longo da nossa infância nos perdemos a capacidade de nos admirarmos com as coisas do mundo. Mas com isso perdemos uma coisa essencial – algo que os filósofos querem nos lembrar. Pois em algum lugar dentro de nós, alguma coisa nos diz que a vida é um grande enigma. E já experimentamos isto, muito antes de aprendermos a pensar[6].

É papel social do filósofo, fazer com que, o ser humano retoma a sua capacidade de se surpreender, admirar, espantar com as coisas, assim como as crianças; trazer de volta a curiosidade juvenil, questionar o atual, racionalizar sobre todas as coisas. Sim, segundo o filósofo grego Platão, é possível filosofar sobre todas as coisas, pois filosofar é um modo de se colocar diante da realidade.

Essa reflexão permite ir além da pura aparência dos fenômenos, em busca de suas raízes e de sua contextualização em um horizonte amplo, que abrange os valores sociais, históricos, econômicos, políticos, éticos e estéticos. Por esta razão, ela pode se voltar para qualquer coisa[7].



[1] Parte da gramática, que trata da origem e formação das palavras.

[2] FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p.12.

[3] GRAMSCI, Antonio. Obras escolhidas. São Paulo: Martins Fontes, 1978. p. 45

[4] GAARDER, Jostein. O mundo se Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 2003. p. 27.

[5] SILVA, Márcio Alexandre. O que é filosofia? Filosofia, ciência e vida, São Paulo:Escala, 2009, v. IV,n. 43.

[6] GAARDER. Op. Cit. p. 30.

[7] ARANHA, Maria L. de Arruda; MARTINS, Maria H. P. Temas de filosofia. São Paulo: Moderna, 2000. p. 77.